A oxidação de lipídios, ou autoxidação, se inicia com a formação de radicais livres, e os hidroperóxidos formados podem causar alterações sensoriais indesejáveis em óleos, gorduras ou alimentos que os contêm, produzindo odor e sabor desagradáveis e com isso, a diminuição do tempo de vida útil. Além disso, os produtos da oxidação lipídica podem desencadear a peroxidação, resultando em problemas de saúde.
Todos os componentes celulares são suscetíveis à ação das Espécies Reativas do Metabolismo do oxigênio (ERMO), porém, a membrana é um dos mais atingidos em decorrência da peroxidação lipídica, que acarreta alterações na estrutura e na permeabilidade das membranas celulares. Conseqüentemente, há perda da seletividade na troca iônica e liberação do conteúdo de organelas, como as enzimas hidrolíticas dos lisossomas, e formação de produtos citotóxicos (como o malonaldeído), culminando com a morte celular.
A peroxidação lipídica é o processo através do qual as ERO agridem os ácidos graxos polinsaturados dos fosfolipídeos das membranas das células, desintegrando-as e permitindo, desta feita, a entrada dessas espécies nas estruturas intracelulares. A fosfolipase, ativada pelas espécies tóxicas desintegra os fosfolipídeos, liberando os ácidos graxos não saturados (Halliwell & Gutteridge, 1989), resultando nas seguintes ações deletérias dos peróxidos lipídicos:
⇒ Ruptura das membranas celulares;
⇒ Mutações do DNA;
⇒ Oxidação dos lipídeos insaturados;
⇒ Formação de resíduos químicos;
⇒ Comprometimento dos componentes da matriz extracelular (proteoglicanos, colágeno e elastina).
Os peróxidos lipídicos possuem poder de ação maior do que as outras espécies tóxicas primárias de O2), atingindo facilmente alvos mais distantes. Acredita-se também que a lipoperoxidação exerça um papel importante na proliferação celular.
Assim como na formação das ERMO, nem sempre os processos de lipoperoxidação são prejudiciais, pois seus produtos são importantes na reação em cascata a partir do ácido aracdônico (formação de prostaglandinas) e, portanto, na resposta inflamatória.
A lipoperoxidação é uma reação em cadeia, representada pelas etapas de iniciação, propagação e terminação.Estas etapas estão apresentadas abaixo:
Iniciação LH + OH• (ou LO•) ———> L•+ H2O (ou LOH)
Propagação L• + O2 ———> LOO•
Propagação LH + LOO• ———> L•+ LOOH
Terminação LOO• + L. ———> LOOL
Terminação LOO• + LOO. ———> LOOL + O2
A reação acima inicia-se com o seqüestro do hidrogênio do ácido graxo polinsaturado (LH) da membrana celular. Tal seqüestro pode ser realizado pelo OH• ou pelo LO• (radical alcoxila), com conseqüente formação do L• (radical lipídico). Na primeira equação de propagação, o L• reage rapidamente com o O2, resultando em LOO• (radical peroxila), que, por sua vez, seqüestra novo hidrogênio do ácido graxo polinsaturado, formando novamente o L• na segunda equação de propagação. O término da lipoperoxidação ocorre quando os radicais (L• e LOO•) produzidos nas etapas anteriores propagam-se até destruirem a si próprios.
O radical hidroxila (OH•) é freqüentemente reconhecido como a espécie iniciadora e a mais importante da lipoperoxidação. Entretanto, estudos indicam que o ferro também desempenha papel determinante na iniciação deste processo.
A lipoperoxidação pode ser catalisada por íons ferro, por conversão de hidroperóxidos lipídicos (LOOH) em radicais altamente reativos (alcoxila, LO• e peroxila, LOO•), que, por sua vez, iniciam nova cadeia de reações, denominada ramificação. Essas reações, que podem ser rápidas ou lentas, dependem da valência do ferro.
É importante termos em mente que a peroxidação lipídica pode ocorrer como consequência da lesão tissular e não como sua causa. Mesmo assim, a peroxidação lipídica é importante porque pode amplificar a lesão original pela sua capacidade de produzir as reações em cadeia.
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/ramb/v43n1/2075.pdf
http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/15975
http://www.geocities.com/bioquimicaplicada/resumosradicais1.htm
Postado por: Jéssica